quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A Carta-Testamento De Getúlio Vargas (O Suicídio)

Documento Histórico

Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao Governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário-mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da aspiral inflacionária que destruía os valores de trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Na declaração de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder. Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater a vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto, O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.

Getúlio Vargas.


Obs:( Postado Por Clesyson Bruno Ferreira Ribeiro Porto)
SÍNTESE HISTÓRICA

Com a chegada da Côrte Portuguesa ao Brasil em março de 1808, D. João sentiu a necessidade imediata de controlar o vasto espólio documental, relativo à defesa do reino português e de suas colônias, que havia retirado dos arquivos militares em Lisboa, para que não caíssem nas mãos dos invasores franceses, e trazido consigo para o Brasil.
Em dia 07 de abril de 1808, por intermédio de um Decreto Real, o Príncipe Regente D. João criou, no Ministério do Estado, dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, o Real Archivo Militar, para reunir, produzir e conservar, em bom estado, todos os mapas topográficos e cartas marítimas do Brasil e dos domínios ultramarinos portugueses que fossem de interesse e uso dos ministérios e do Regente lusitano, cabendo ao Conde de Linhares, D. Rodrigo de Souza Coutinho, titular dessa Pasta, impulsionar o projeto.
Para organizar o Real Archivo Militar foi nomeado como Diretor, pelo Príncipe D. João, o Coronel João Manoel da Silva, Inspetor do Real Corpo de Engenheiros que acumulou as duas funções. Em função disso, o Arquivo Histórico esteve ligado ao Corpo de Engenheiros do Exército até o início do século XX.
Inicialmente instalado na Casa do Trem, hoje Museu Histórico Nacional, por ocasião da proclamação da Independência, em 1822, teve seu nome alterado para Archivo Militar.
Ao longo do século XIX, ocupou instalações militares situadas na Fortaleza de São Sebastião, localizada no Morro do Castelo; na Praça da Aclamação, atual Campo de Santana; no Largo de São Francisco; no Largo do Moura, atual Praça Marechal Âncora; na Rua do Lavradio e na Rua do Imperador.
No período de 1887 a 1908, o Arquivo, já instalado no Quartel General junto ao Campo de Santana, esteve sucessivamente subordinado à Diretoria Geral de Obras Militares, a Repartição do Estado-Maior e ao Departamento Central da Secretaria de Estado da Guerra, futura Secretaria Geral do Exército.
Em 8 de março de 1934, o Arquivo do Exército foi transformado em Organização Militar subordinada ao Departamento Central da Secretaria de Estado da Guerra e em 5 de setembro de 1986, recebeu a denominação de Arquivo Histórico do Exército.
Por mais de dois séculos, o Arquivo Histórico do Exército vem cumprindo, basicamente, a mesma missão que lhe foi imposta pelo príncipe D. João que é conservar, restaurar e manter a memória institucional, operacional e dos integrantes do Exército Brasileiro e do País.
Em seus depósitos encontram-se armazenados vasto acervo cartográfico, iconográfico e documental que retratam a história do Exército e do Brasil, a partir do século XVI.
Merecem destaque os acervos cartográficos utilizados nas missões de demarcação dos limites fixados pelos tratados de Madrid (1750), El Pardo (1761) e Santo Idelfonso (1777); o levantamento topográfico do Teatro de Operações do Paraguai, durante a Guerra da Tríplice Aliança, que permitiu o planejamento das ações militares; e o acervo da Força Expedicionária Brasileira.
Convém destacar, também, a importância dos acervos da Guerra do Paraguai, da Força Expedicionária Brasileira e de Canudos que foram certificados como Memória do Mundo – América Latina e Brasil - pela UNESCO.
O Arquivo Histórico do Exército realiza, também, importante trabalho de restauração, preservação e divulgação dos diferentes documentos sob sua responsabilidade. Para tanto, conta com uma equipe de militares e funcionários civis especializados em técnicas arquivísticas, bem como uma equipe de historiadores e pesquisadores que disponibilizam as informações e os documentos aos interessados no Brasil e no exterior.
Atualmente, o Arquivo Histórico do Exército destaca-se por ser uma das instituições responsáveis pela preservação da memória do país, sendo considerada uma Organização Militar arquivística de referência tanto no cenário nacional e como no internacional.

POSTADO POR: EDMUNDO SANTOS

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

DOCUMENTOS HISTÓRICOS

SEMANA DA ARTE MODERNA - 1922                                 MANIFESTO DA POESIA PAU - BRASIL 



A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos. O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança. Toda a História bandeirante e a História comercial do Brasil. O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos. Comovente. Rui Barbosa: uma cartola na Senagâmbia. Tudo revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e das frases. Negras de jóquei. Odaliscas no Catumbi. Falar difícil. O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as seivas selvagens. O bacharel, Não podemos deixar de ser doutor. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho. A nunca exportação de poesia. A poesia ainda oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitária. Mas houve um estouro nos aprendimentos. Os homens que sabiam tudo se deformaram como borrachas sopradas. Rebentaram. A volta à especialização. Filósofos fazendo filosofia, críticos, crítica, dona-de-casa tratando de cozinha. A poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e descobrem. Tinha havido a inversão de tudo, a invasão de tudo: o teatro de tese e a luta no palco entre morais e imorais. A tese ser decidida em guerra de sociólogos, de homens de lei, gordos e dourados como Corpus luris. Ágil o teatro, rilho do saltimbanco. Ágil e ilógico. Ágil o romance nascido da invenção. Ágil a poesia. A Poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma criança. Uma sugestão de Blaise Cendrars: - Tendes as locomotivas cheias, ides partir. Um negro gira a manivela do desvio rotativo em que estais. O menor descuido vos fará partir na direção oposta ao Vosso destino. Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. Engenheiros em vez de jurisconsultos, perdidos como chineses na genealogia das idéias. A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. como somos. Não há luta na terra de vocações acadêmicas. Há só fardas. Os futuristas e os outros. Uma única luta: - a luta pelo caminho. Dividamos: Poesia de importação. E a Poesia Pau-Brasil, de exportação. Houve um fenômeno de democratização estética nas cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o naturalismo. Copiar. Quadro de carneiros que não fosse lã mesmo não prestava. A interpretação do dicionário oral das Escolas de Belas-Artes queria dizer reproduzir igualzinho ... Veio a pirogravura. As meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a máquina fotográfica, E com todas as prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da misteriosa genealidade de olho virado - o artista fotógrafo. Na música, o piano invadiu as saletas nuas, de folhinha na parede. Todas as meninas ficaram pianistas. Surgiu o piano de manivela, o piano de pastas. A playela. E a ironia eslava compôs para a Playela. Stravinski. A estatuária andou atrás. As procissões saíram novinhas das fábricas. Só não se inventou uma máquina de fazer verso - já havia o poeta parnasiano. Ora, a revolução indicou apenas que a arte voltava para as elites. E as elites começaram desmanchando. Duas fases: - a deformação através do impressionismo, a fragmentação, o caos voluntário. De Cézanne a Mallarmé, Rodin e Debussy até agora; 2ª o lirismo, a apresentação no templo, os materiais, a inocência construtiva. O Brasil profiteur. O Brasil doutor. E a coincidência da primeira construção brasileira no movimento de reconstrução geral. Poesia Pau-Brasil. Como a época é miraculosa, as leis nasceram do próprio rotamento dinâmico dos fatos destrutivos.

A síntese.
 O equilíbrio.
 O acabamento de carrosserie.
 A invenção.
 Uma nova perspectiva.
 Uma nova escala.
 Qualquer esforço natural nesse sentido será bom. Poesia Pau-Brasil.
 O trabalho contra o detalhe naturalista - pela "síntese" contra a morbidez romântica pelo "equilíbrio" geômetra e pelo acabamento" técnicos; contra a cópia, pela "invenção" e pela "surpresa".
 Uma nova perspectiva:

A outra, a de Paolo Ucello, criou o naturalismo de apogeu. Era uma ilusão ótica. Os objetos distantes não diminuíram. Era uma lei de aparência. Ora, o momento é de reação à aparência. Reação à cópia. Substituir a perspectiva visual e naturalista por uma perspectiva de outra ordem: sentimental, intelectual, irônica, ingênua.

Uma nova escala.

A outra, a de um mundo proporcionado e catalogado com letras nos livros, crianças nos colos. O reclame produzindo letras maiores que torres. E as novas formas da indústria, da aviação. Postes, Gasômetros, Rails. Laboratórios e oficinas técnicas. Vozes e tiques de fios e ondas de fulgurações. Estrelas familiarizadas com negativos fotográficos. O correspondente da surpresa física em arte. A reação contra o assunto invasor, diversos da finalidade. A peça de tese era um arranjo monstruoso. O romance de idéias, uma mistura. O quadro histórico, uma aberração. A escultura eloquente, um pavor sem sentido. Nossa época anuncia a volta ao "sentido puro". Um quadro são linhas e cores. A estatuária são volumes sob a luz. A poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira, com passarinhos cantando na mata resumida das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente. Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres. Temos a base dupla e presente - a floresta e a escola. A raça crédula e dualista e a geometria, a álgebra e a química logo depois da mamadeira e do chá de erva-doce. Um misto de "dorme nenê que o bicho vem pegá" e de equações. Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos, nas turbinas elétricas, nas usinas produtoras, nas questões cambiais, sem perder de vista o Museu Nacional. Pau-Brasil. Obuses de elevadores, cubos de arranha-céu e a sábia preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia íntima. O sabia. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de aviação militar. 

Pau-Brasil.

O trabalho da geração futurista foi ciclópico. Acertar o relógio império da literatura nacional. Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser regional e puro em sua época. O estado de inocência substituindo o estado de graça que pode ser uma atitude do espírito. O contrapeso da originalidade nativa para inutilizar a adesão acadêmica. A reação contra todas as indigestões de sabedoria. O melhor de nossa tradição lírica. O melhor de nossa demonstração moderna. Apenas brasileiros de nossa época. O necessário de química, de mecânica, de economia e de balística. Tudo digerido. Sem meeting cultural. Práticos. Experimentais. Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem comparações de apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem antologia. Bárbaros crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais. Pau-Brasil. A floresta e a escola. O Museu Nacional. A cozinha, o minério e a dança. A vegetação. Pau-Brasil.


(OBS: PUBLICADO POR CLEYSON BRUNO FERREIRA RIBEIRO PORTO, INTEGRANTE DO GRUPO)

DOCUMENTOS HISTÓRICOS

PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA - 1889


O Povo, o Exército e a Armada Nacional, em perfeita comunhão de sentimentos com os nossos concidadãos residentes nas províncias, acabam de decretar a deposição da dinastia imperial e conseqüentemente a extinção do sistema monárquico representativo.

Como resultado imediato desta revolução nacional, de caráter essencialmente patriótico, acaba de ser instituído um Govêrno Provisório, cuja principal missão é garantir com a ordem pública a liberdade e o direito do cidadão.

Para comporem êste Govêrno, enquanto a Nação Soberana, pelos seus orgãos competentes, não proceder a escolha do Govêrno definitivo, foram nomeados pelo Chefe do Poder Executivo os cidadãos abaixo assinados.

Concidadãos!
O Govêrno Provisório, simples agente temporário da soberania nacional, é o Govêrno da paz, da fraternidade e da ordem. No uso das atribuições e faculdades extraordinárias de que se acha investido, para a defesa da integridade da Pátria e da ordem pública, o Govêrno Provisório, por todos os meios ao seu alcance, promete e garante a todos os habitantes do Brasil, nacionais e estrangeiros, a segurança da vida e da propriedade, o respeito aos direitos individuais e políticos, salvas, quanto a êstes, as limitações exigidas pelo bem da Pátria e pela legítima defesa do Govêrno proclamada pelo Povo, pelo Exército e pela Armada Nacional.

Concidadãos!

As funções da justiça ordinária, bem como as funções da administração civil e militar, continuarão a ser exercidas pelos órgãos até aqui existentes, com relação às pessoas, respeitadas as vantagens e os direitos adquiridos por cada funcionário.
Fica, porém, abolida, desde já a vitaliciedade do Senado e bem assim o Conselho do Estado. Fica dissolvida a Câmara dos Deputados.

Concidadãos!

O Govêrno Provisório reconhece e acata os compromissos nacionais contraídos durante o REGIMEanterior, os tratados subsistentes com as potências estrangeira, a dívida pública externa e interna, contratos vigentes e mais obrigações legalmente estatuídas.

Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, Chefe do Govêrno Provisório.
Aristides da Silveira Lôbo, Ministro do Interior.
Tenente-Coronel Benjamin Constant Botelho de Magalhães, Ministro da Guerra..
Chefe de Esquadra Eduardo Wandenkolk, Ministro da Marinha.
Quintino Bocaiúva, Ministro das Relações Exteriores e Interinamente da Agricultura, Comércio de Obras Públicas.

(Obs; Publicado por Cleyson Bruno Ferreira Ribeiro Porto, integrante do blog)

DOCUMENTOS HISTÓRICOS

HISTÓRIA DO BRASIL - DOCUMENTOS HISTÓRICOS

DIA DO FICO - 1821

O povo do Rio de Janeiro conhecendo que os interesses das Nações reunidos em um centro comum de idéias sobre o bem Público devem ser os primeiros objetos da vigilância daqueles, que estão revestidos do caráter de seus Representantes, e de mais convencido de que nas circunstâncias atuais se constituiria responsável para com as gerações futuras, se não manifestasse os seus sentimentos à vista da medonha perspectiva que se oferece a seus olhos pela retirada de Sua Alteza Real, se dirige com a última energia à presença de Vossa Senhoria, como seu legítimo Representante, esperando que mereçam toda a sua consideração os motivos, que neste se expõem, para se suspender a execução do Decreto das Cortes sobre o regresso de Sua Alteza Real para a antiga Sede da Monarquia Portuguesa.

O Povo sempre fiel à causa comum da Nação, julga que não se desliza da sua marcha representando os inconvenientes, que podem resultar de qualquer providência expedida, quando ela encontre no local, em que deve ser executada, obstáculos a esta idéia de prosperidade pública, que o Soberano Congresso anunciou altamente à face da Europa, e que até o presente tem sido motivo de nossa firme adesão aos princípios Constitucionais. Na crise atual o regresso de Sua Alteza Real deve ser considerado como uma providência inteiramente funesta aos interesses Nacionais de ambos os Hemisférios. Não, não é a glória de possuir um Príncipe da Dinastia Reinante, que obriga o Povo a clamar pela sua residência no Brasil à vista do mesmo Decreto, que o chama além do Atlântico: nós perderíamos com lágrimas de Saudade esta glória, que acontecimentos imprevistos, e misteriosamente combinados nos trouxeram, abrindo entre nós uma época, que parecia não estar marcada pela providência nos nossos Fastos, e ao mesmo tempo fazendo a emancipação do Brasil justamente na idade, em que possuído da indisputável idéia de suas forças, começava a erguer o colo para repelir o sistema Colonial; mas a perda desta Augusta Posse é igualmente a perda da segurança, e da prosperidade deste rico, e vastíssimo Continente; ainda avançamos a dizer respeitosamente, que esta perda terá uma influência mui imediata sobre os destinos da Monarquia em geral. Se os Políticos da Europa maravilhados pela Resolução de Sua Majestade o Senhor Dom João Vi em passar-se ao Brasil realizando o projeto, que os Holandeses conceberam quando Luís IV trovejava às portas de Amsterdam, que Filipe V tinha na idéia quando a fortuna o ameaçava de entregar a Espanha ao seu rival, que o ilustre Pombal premeditava quando o Trono da Monarquia parecia ir descer aos abismos abertos pelo terremotos, que Cados IV já mui tarde desejou realizar; sim se os Políticos disseram que o Navio que trouxe ao Brasil o Senhor D. João Vi alcançaria entre os antigos Gregos maiores honras do que esse, que levou Jason e os Argonautas a Colcos, o Povo do Rio de Janeiro julga que o Navio que reconduzir Sua Alteza Real aparecerá sobre o Tejo com o Pavilhão da Independência do Brasil.

Talvez que Sua majestade Criando o Senhor D. Pedro, Príncipe Regente do Brasil tivesse diante dos olhos estas linhas traçadas pelo célebre Mr. Du-Pradt "Si le passage du Roi n`avait eu lieu, le Portugal perdait le Brésil de deux maniéres, 1. par l`attaque qú eu auraiente fait les Angiais sous pretexte de guerre avec le Portugal soumis aux Français; 2. par I`Independance dans Ia quelle ce grand Pays separe de Ia Métropole par la guerre ne paurait manquer de tomber, comme ont fait les Colonies Espagnoles, et para la même raison, et avec le même succés. Aussi est il bien evident que si jamais le Souverain établi au Brésil repasse en Portugal il laisserá derriére lui I`Independance établie dans les comptoirs de Rio de Janeiro." - Se a passagem do Rei se não verificasse, Portugal perdia o Brasil por dois modos, primeiro por ataque que fariam os Ingleses com o pretexto de guerra com Portugal submetido aos Franceses; segundo pela independência, que infalivelmente este grande País separado da Metrópole pela guerra proclamaria, como fizeram as Américas Espanholas com a mesma razão, e com o mesmo sucesso. É logo bem evidente que se algum dia o Soberano estabelecido no Brasil voltar para Portugal, deixará após de Si a Independência firmada em todas as feitorias do Rio de Janeiro. Conhece-se qual é o estado de oscilação, e de divergência, em que estão todas as Províncias do Brasil; o único centro para onde parece que se encaminham suas vistas, e suas esperanças é a Constituição, e a primeira vantagem, que se espera deste plano regenerador é a conservação inalienável das atribuições, de que se acha de posse esta antiga Colônia transformada em Monarquia; menos para autorizar a residência do Augusto Chefe da Nação, do que pelo grande peso, que o seu Comércio de exportação lhe dava na balança mercantil da Europa, pelas suas diferentes relações com os diversos Povos desse antigo Hemisfério, e pelo progressivo desenvolvimento de suas forças físicas, e morais.

O Brasil conservado na sua Categoria, nunca perderá de vista as idéias de seu respeito para com a sua ilustre, e antiga Metrópole, nunca se lembrará de romper esta cadeia de amizade, e de honra, que deve ligar os dois Continentes através da mesma extenção dos mares que o separam; e a Europa verá com espanto, que se o espaço de duas mil léguas, foi julgado mui logo para conservar em vigor os laços do Reino Unido, sendo o fiador desta união um frágil lenho, batido pelas ondas, e exposto às contingências da Navegação; este mesmo espaço nunca será capaz de afrouxar os vínculos de nossa aliança, nem impedirá que o Brasil vá ao longe com mais alegria, com a mão mais cheia de riquezas, do que ia dantes, engrossar a grande artéria da Nação.

O Povo do Rio de Janeiro conhecendo bem, que estes são os sentimentos de seus co-irmãos Brasileiros protesta à face das Nações pelo desejo que tem de ver realizada esta união tão necessária, e tão indispensável para consolidar as bases da prosperidade Nacional: entretanto o mais Augusto penhor da infalibilidade destes sentimentos é a Pessoa do Príncipe real no Brasil, porque nele reside a grande idéia de toda aptidão para o desempenho destes planos, como o primeiro vingador do sistema Constitucional. As Províncias do Brasil aparecendo nas pessoas dos seus Deputados em roda do Trono do Príncipe Regente formaram uma liga de interesses comuns, dirigindo sempre a marcha das suas providências segundo a perspectiva das circunstâncias, sendo um dos seus objetos de empenho estreitar mais e mais os vínculos de nossa Fraternidade Nacional.

Se o motivo que as Cortes apresentaram para fazerem regressar Sua Alteza Real é a necessidade de instrução de economia Política, que o Mesmo Senhor deve adquirir viajando pelas Cortes da Europa assinadas no Decreto, o Povo julga que se faz mais necessário para a futura glória do Brasil, que Sua Alteza Real visite o interior deste vastíssimo Continente desconhecido na Europa Portuguesa, e por desgraça nossa examinado, conhecido, descrito, despojado pelas Nações Estranjeiras, em cujas Cartas, como ultimamente na de Mr. La Pie, nós com vergonha vamos procurar as Latitudes, e as Longitudes das Províncias centrais, a direção dos seus grandes rios, e a sua posição geográfica, os justos limites, que as separam umas das outras, e até conhecer a sua capacidade para as riquezas de agricultura pela influência das diversas superfícies, que elas oferecem.

Portugal considerando o Brasil como um País, que só lhe era útil pela exportação do ouro, e de outros gêneros com que ele paga o que importam os Estrangeiros, esquecendo-se que esta mesma exportação era resultado mais das forças Físicas do Brasil, do que de estímulo das Artes de indústria comprimidas pelo mortífero sistema Colonial, e abandonadas a uma cega rotina não se dignou em tempo algum entrar no exame deste Continente, nunca lançou os olhos sobre o seu termômetro político, e moral, para conhecer a altura em que estava a opinião pública, e bem mostra agora pela indiferença com que se anuncia a seu respeito: é portanto de primeira necessidade que o Príncipe Regente dê este passo tão vantajoso para maior desenvolvimento da vida moral, e física do Brasil.

As Cortes da Europa hoje decaídas daquele esplendor, que elas apresentavam em outras épocas ainda conservam grandes Sábios, famosos políticos, porém estas classes se consideram mudas, e paralisadas pelas diversas facções, que as combatem com uma prepotência irresistivel: Sua Alteza Real não encontrará hoje nelas mais do que intrigas diplomáticas, mistérios cabalísticos, pretensões, ideais, projetos efêmeros, partidos ameaçadores, a moral pública por toda a parte corrompida, os Liceus das Artes, e das Ciências na mais miserável prostituição, uma política cega concebendo, e abortando, em uma palavra Sua Alteza Real achará em toda a Europa vestígios desse vulcão, que rebentando ao Meio Dia levou estragos além das Ilhas, e dos Mares. Não, não foi em crises tão fatais, que viajaram o Imortal Criador do império da Rússia Pedro Primeiro, e o grande filho de Maria Tereza José Segundo, assim como outros Príncipes, que voltaram aos seus Estados enriquecidos de conhecimentos, que fizeram a prosperidade de suas Monarquias. Depois que o interesse passou a ser, como diz o Abade Condillac, a mola Real dos Gabinetes da Europa, a Política começou a esconder sua marcha, e quase sempre as idéias ostensivas são inteiramente diversas daquelas, que aparecem nos planos das negociações. É bem de esperar que o Príncipe Herdeiro de uma Monarquia olhada hoje com ciúme pelas Nações Estrangeiras não seja admitido a comunicação dos seus mistérios Eleusinos, que veja as novas Tiros, e Cartagos só pela perspectiva de sua economia pública, e que se faça todo o empenho para desviar da conhecida agudeza de seu Engenho a Carta dos interesses Ministeriais.

Nas províncias do Brasil Sua Alteza Real achará um Povo, que o adora, e que suspira pela sua presença: nas mais polidas encontrará homens de talentos, bem dignos de serem admitidos ao seu Conselho, em outras achará a experiência dos velhos, que o Discípulo de Xenofonte encontrou nas bocas do Nilo; conhecerá de perto as forças locais deste imenso País, em cujo seio ainda virgem, como diz o célebre Mr. de Sismondi se podem perfilhar as plantações, que nutrem o orgulho das margens do Indo, do Ganges, da antiga Taprobana, e que obrigam o altivo Adamastor a se embravecer tantas vezes contra os Europeus. Os Povos experimentaram estes estímulos de estusiasmo, e de brio, que inspira a presença criadora de um Príncipe; sobre todas as vantagens enfim; Sua alteza Real terá uma que não é pequena, conhecer por Si mesmo a herança de Sua Soberania, e não pelas informações dos Governadores, que tudo acham inculto, atrasado, com obstáculos dificultosos, ou invencíveis para se desculparem assim de sua inação, ou para depois mostrarem em grande mapa colorido o pouco que fizeram, deixando entre as sombras as concussões violentíssimas, que sofreram as vítimas de seu despotismo. Tal é a idéia que o nosso insigne Vieira oferece em suas Cartas quando analisa a conduta destes Régulos de bastão e ferro, praga tão funesta ao Brasil, ou ainda mais, do que o mesmo sistema Colonial.

Sendo pois esta viagem de tão grandes consequências para o progressivo melhoramento do Brasil, fica demonstrada a sua importância, e sua necessidade; os conhecimentos adquiridos por Sua Alteza Real sendo confrontados com os votos daqueles, que possuem a verdadeira estatística do Brasil servirão muito para organizarem o plano do REGIME que deve animar a sua vida física, e moral.

Há uma distância mui considerável entre o Meio Dia da Europa, e o Meio Dia da América; a Natureza humana aqui experimenta uma mudança sensível, um novo Céu, e por isso mesmo uma nova influência sobre o caráter de seus indivíduos; é impossível que Povos classificados em oposição física se possam reunir debaixo do mesmo sistema de governo; a Industria, a Agricultura, as Artes em geral exigem no Brasil uma Legislação particular, e as bases deste novo Código devem ser esboçadas sobre os locais, onde depois hão de ir ter sua execução. Se o Brasil agrilhoado em sua infância, e com mui poucas homenagens na sua mocidade avançou rapidamente através das mesmas barreiras, que tolhiam sua marcha, quanto não avançará depois de ser visitado, e perfeitamente conhecido pelo Príncipe Herdeiro da Monarquia, que na sua passagem verá a justiça que se lhe fez tirando-se-lhe as argolas Coloniais, e dando-se-lhe o Diadema? O Povo do Rio de Janeiro tendo em vista o desempenho deste projeto verdadeiramente filantrópico, e conhecendo que Sua Alteza Real anuncia o mais energético entusiasmo em realizá-lo com grande vantagem da Nação em geral, não pode portanto convir no seu regresso, e julgando que tem dito quanto basta para que V.S. faça ver a Sua Alteza Real a delicadeza com que o Mesmo Senhor se deverá haver nas circunstância já ameaçadoras no horizonte político do Brasil, espera ser atendido na sua representação, de cujas consequências (não o sendo) o mesmo Povo declara V.S. responsável-, igualmente espera que o Soberano Congresso a receba, e a considere como um manifesto da vontade de in-nãos Interessados na prosperidade geral da Nação, no renovo de sua mocidade, e de sua glória, que sem dúvida não chegará ao Zenith, a que espera subir se não estabelecer uma só medida para os interesses recíprocos dos dois Hemisférios, atendendo sempre às diversas posições locais de um, e outro. Sendo portanto de esperar, que todas as Províncias do Brasil se reunam neste centro de idéias, logo que se espalhe a lisonjeira notícia de que se não verificou o regresso de Sua Alteza Real, o Povo encarrega a V.S. de fazer ver ao mesmo Senhor a absoluta necessidade de ficarem por agora suspensos os dois decretos 124, e 125 das Cortes, porque não se pode presumir das públicas intenções do Soberano Congresso, que deixe de aceder a motivos tão justos, e de tão grandes relações com o bem geral da Nação. 

Rio de Janeiro, em 29 de dezembro de 1821.


(Obs: Publicado por Cleyson Bruno Ferreira Ribeiro Porto, integrante do Blog)

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

                           Documentos históricos do Brasil 

      São registros que comprovam fatos importantes ocorridos em determinado período. São utilizados para edificar a sucessão dessas ações a partir de uma lógica elaborada por historiadores.
Até o final do século XIX, a história de um povo ou comunidade era concebida, assim, pela sucessão de fatos acontecidos no campo superior de sua condução. O manifesto de um partido ou o discurso de um líder político registrava a evolução daquele povo ou comunidade. A partir do século XX, mantém-se o valor jurídico e científico da prova, porém, alarga-se o conceito de documento como manuscrito de relevância política. O conhecimento do comportamento humano revela aspectos do passado sob os quais o historiador se debruça com igual importância para compreender como produziam e distribuiam seus recursos, como se relacionavam as camadas sociais, como imaginavam o mundo e em que acreditavam.
A história do Brasil seleciona e guarda documentos que representam momentos significativos da evolução do país e refletem, além de provas e evidências, traços importantes dos aspectos da formação territorial, da constituição étnica e social, da organização política e econômica e da identidade cultural brasileiras.

Tratado de Tordesilhas

Treaty of Tordesillas.jpg
     No século XV, o domínio dos territórios situados a oeste, no Oceano Atlântico, era objeto de disputa entre Portugal e Espanha. Na época, a legitimidade das questões de Estado era reconhecida pelos papas que emitiam diferentes bulas a esse respeito. Em 1493, a descoberta, já ocorrida, de Cristóvão Colombo para a Espanha acirrou a disputa e foi baixada a bula Inter Coetera, definindo que as terras situadas a 100 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde pertenceriam à Portugal; as demais terras, à Espanha.
O rei João II de Portugal recusou o limite e estabeleceu negociações diretas com a corte espanhola que resultaram na assinatura, em 7 de junho de 1494, do Tratado de Tordesilhas, que ampliou aquele marco para 370 léguas. O Brasil ficou sob domínio português até o meridiano que passa pelas atuais cidades de Belém, ao norte, e Laguna, ao sul.

Relatório de viagem: Vasco da Gama (1497)

     Como navegador experiente que era, Vasco da Gama foi encarregado, pelo rei Manuel I de Portugal, de chefiar a expedição que deveria alcançar as Índias. Suas negociações não foram bem sucedidas devido à reação de comerciantes muçulmanos que temiam a concorrência. Vasco da Gama retorna para Portugal em 1499. O relatório desse empreendimento forneceu subsídios para a viagem de Cabral.

Carta de Pero Vaz de Caminha

Carta-caminha.png
     Redigida pelo escrivão Pero Vaz de Caminha, a carta que comunicou ao rei Dom Manuel I o descobrimento do Brasil contém a narrativa da viagem até a costa brasileira, cuja descrição da nova terra é bem diferente da experiência européia: "(...) Eles não lavram, nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer outra alimária, que costumada seja ao viver dos homens. Nem comem senão desse inhame, que aqui há muito, e dessa semente e frutos, que a terra e as árvores de si lançam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos.(...)".
A carta revela a exuberãncia da natureza, a diversidade da fauna e a inocência do novo homem. destaca a fertilidade da terra e a possibilidade da existência de ouro, além de sugerir a salvação do índio pelo cristianismo.
O documento é fonte importante, não apenas pelo evento político, mas por retratar uma das primeiras visões européias de uma nova gente.

POSTADO POR: EDMUNDO SANTOS



Documentos históricos como recurso didático no ensino de história
Leonardo Paiva de Oliveira
Graduando em História - UFRN
Dhierclay de Souza Alcântara
Graduando em História - UFRN
Paulo Sergio da Silva
Graduando em História - UFRN
Resumo
O ensino de história é tido como um elemento fundamental para o
desenvolvimento de uma consciência histórica que implique no envolvimento do indivíduo
na sociedade que o cerca, sabendo este analisar de maneira crítica tudo aquilo que o
envolve perante as relações sociais. Sendo as formas de ensino muitas vezes
precariamente trabalhadas em sala de aula, os alunos do ensino básico acabam por ter
uma formação defasada e longe daquilo que se pretende ao ensinar história. Este
trabalho abordará então um dos vários recursos que os professores podem utilizar na sua
prática de ensino, contribuindo de maneira significativa no processo cognitivo do aluno. A
utilização de documentos históricos no ensino de história é uma alternativa positiva para
despertar no aluno o interesse real de como se trabalha a história, desconstruindo a ideia
de uma disciplina meramente acumuladora de fatos e memorização dos mesmos. Um
documento não pode ser utilizado apenas para ilustrar fatos, mas sim para desenvolver
no aluno uma capacidade de análise daquilo que o cerca, contribuindo desta maneira
para o desenvolvimento de uma consciência crítica por parte do discente. Para a
realização de tal trabalho serão utilizados determinados documentos que se encontram no
arquivo da Arquidiocese de Natal, junto a uma pesquisa nas salas de aula sobre o
conteúdo ministrado em turmas do ensino básico a fim de utilizar alguns documentos da
arquidiocese como ferramenta de apoio no processo de aprendizagem. Pretendemos
então estimular uma reflexão por parte dos docentes e discentes sobre a importância da
utilização de documentos na construção do saber histórico.
Palavras-chaves:
1) Ensino de história; 2) Documentos históricos; 3) Consciência
histórica.
Introdução
A construção do saber histórico em sala de aula nos faz refletir sobre a
importância da história na vida prática do estudante e até que ponto o ensino desta
disciplina está contribuindo na formação da cidadania do mesmo. Segundo Luiz Fernando
Cerri:
Talvez essa seja uma das contribuições mais importantes do pensar
historicamente para a construção da cidadania: a capacidade de
entender e posicionar-se diante de visões de mundo, de explicações
gerais ou fragmentárias sobre a sociedade, que utilizam
conhecimentos sobre o tempo. (CERRI, 200, p. 65).
Tendo em vista o déficit que se encontra o atual momento da educação básica
brasileira e como a história vem sendo precariamente trabalhada, nos faz querer reavaliar
certas concepções práticas de ensino tradicional, que não vêm
contribuindo
significativamente no seu papel social, e por isso, procurar alternativas que possam
potencializar o ensino e o aprendizado.
Dentre algumas alternativas, escolhemos trabalhar com documentos históricos
na sala de aula, mais especificamente o jornal
A Ordem
, veículo de informação que se
encontra no arquivo público da Arquidiocese de Natal. Optamos por tal jornal pelo fato de
ser um documento que foi muito influente no século passado, no que diz respeito à
circulação de informações do Brasil e do Mundo para a sociedade natalense, bem como a
sua importância enquanto um veículo de mídia que pode ser trabalhado em sala,
estabelecendo paralelos com outros tipos de jornais (impressos, televisivos, eletrônicos,
etc.) da atualidade a fim de despertar o caráter crítico e reflexivo dos alunos.
Ensino de história e consciência histórica
O ensino de história tem como um de seus principais objetivos o
desenvolvimento da consciência histórica por parte do aluno e que com isso ele possa
desenvolver uma analise crítica sobre sua interpretação do mundo humano e social,
capacitando-o a se situar mais adequadamente ao seu tempo. A consciência histórica é
uma capacidade que é inerente a todos, mas precisa ser maturada, e como já foi dito
anteriormente, é justamente através do ensino de história que ela poderá ser trabalhada.
É importante destacar que esse processo de conscientização não é simplesmente dar

consciência a quem não a tem, mas sim, atuarmos como pontes para a construção desse
saber, de certa maneira em que a nossa própria consciência não saia da mesma forma
que entrou, pois no processo de ensino aprendizagem, seja ele qual for, deve existir uma
dialogicidade entre educando e educador, o que possibilita o aprendizado mútuo.
Agora, o que é exatamente consciência histórica? Não existe um consenso
sobre a sua definição, assim como muitas coisas na história, ela vai de acordo com o
pensamento de cada autor mostrando a questão da relatividade histórica. Iremos,
entretanto, nos basear principalmente no pensamento de Jorn Rüsen, segundo ele a
consciência histórica é:
A suma das operações mentais com as quais os homens
interpretam sua experiência da evolução temporal de seu
mundo e de si mesmos, de forma tal que possam orientar,
intencionalmente, sua vida prática no tempo. (RÜSEN, 2001,
p. 57).
Em suma, é a capacidade de relacionar o passado ao presente e obter
orientação para o futuro. Algo muito interessante nisso é como o conhecimento histórico é
tido como fundamental para a vida prática de todos, sem exceções, tirando aquela ideia
de ser apenas um conhecimento lúdico e de que a história é a ciência do passado e
resume-se a isto. Somente quando a história deixar de ser um mero acúmulo de
informações passadas e passar a ter uma reflexão acerca de seu conteúdo que gere
perguntas e respostas ao indivíduo, é que ela poderá se tornar fator de determinação
cultural da vida prática humana. “Agir, enfim, é um processo em que continuamente o
passado é interpretado à luz do presente e na expectativa do futuro, seja ele distante ou
imediato.” (CERRI, 2008, p. 29). A consciência histórica não se resume ao passado e à
memória, mas às projeções que fazemos para o nosso futuro e ainda, segundo Rüsen:
A consciência histórica não é idêntica à lembrança. Só se pode falar
de consciência histórica quando, para interpretar experiências atuais
do tempo, é necessário mobilizar a lembrança de determinada
maneira: ela é transportada para o processo de tornar presente o
passado mediante o movimento da narrativa. (RÜSEN, 2001, p. 63 )
.
Seria exatamente a resposta àquela clássica pergunta que norteia a cabeça de
muitos, principalmente dos estudantes do ensino básico que não conseguem ver a razão
de estudar o que já se passou: “por que estudar história?” E muitas vezes não conseguem

ver por serem desde os anos iniciais de ensino, mal instruídos. Um dos principais
responsáveis por responder a tal indagação é o profissional de história cumprindo com o
seu papel de professor. Afinal, todo professor de história deve ser um historiador, e como
tal deve saber guiar os seus discentes de maneira que os despertem para o verdadeiro
significado da história, sendo necessário que isso seja trabalhado da maneira correta.
Vale salientar que quando dizemos “ser trabalhado da maneira correta” não queremos de
forma alguma delimitar a uma única possibilidade, pois isso seria, sob a nossa óptica,
empobrecedor.
Documentos e ensino, uma relação necessária
Apesar do amplo debate que há bastante tempo vem se prolongando no âmbito
do ensino da história de que é necessário modificar a forma pedagógica de como se
trabalhar em sala de aula, ou até mesmo fora dela, ainda hoje não observamos as
mudanças que na teoria já estão mais do que claras. É consenso no meio acadêmico de
que a história factual que visa simplesmente acumular fatos acriticamente é uma
abordagem ultrapassada e não cumpre com os verdadeiros propósitos da disciplina.
Professores muitas vezes desmotivados, seja por péssimas condições de trabalho, como
a má remuneração e a falta de estrutura e tempo ou por outros motivos como má
formação acadêmica, terminam se adaptando à sua realidade, impossibilitando, dessa
maneira, que aquele conhecimento teórico pedagógico, tido como mais apropriado, que
muito deles até conhecem, seja posto em prática devido às dificuldades citadas. Assim,
buscar maneiras que se adaptem a realidade prática do ensino, leva-nos a buscar
metodologias mais eficientes que auxiliem no processo de ensino aprendizado.
Uma proposta interessante seria abordar os documentos históricos em sala de
aula, se bem trabalhados darão uma contribuição importante no processo de
aprendizagem, pois possibilitaria o contato com o “real”, levando a uma compreensão de
situações concretas do passado até então apenas idealizadas. Um documento histórico
antes era uma preocupação exclusiva dos historiadores para produzir história, agora já
são utilizados como meio didático para auxiliar no aprendizado dos não especialistas, no
caso, os discentes. Vale salientar que através dos documentos os alunos passarão a
participar de forma ativa na aula, deixando de serem sujeitos passivos que apenas
serviam como receptáculos das informações jogadas pelo professor, tornando-se sujeitos
ativos no processo do conhecimento.

Muitas vezes a dificuldade maior do professor é fazer com que o estudante se
interesse pelo o que está sendo ministrado em sala de aula. O documento histórico entra
aqui como um elemento de estímulo para o aluno por se tratar de um material mais
atrativo e diferenciado das aulas tradicionais, pois o aluno que está acostumado a ir para
a sala de aula, se sentar e ficar ouvindo o professor falar sobre determinados
acontecimentos, termina vinculando uma imagem negativa à disciplina, como algo
enfadonho e sem graça. Apenas o fato de se ter uma aula diferenciada já é um ponto
positivo para tentar despertar o interesse no aluno e, segundo o artigo de número 36 da
Lei de Diretrizes e Bases, o professor tem como uma de suas obrigações adotar
metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa do estudante.
O documento pode ser trabalhado pelo professor de diversas maneiras, seja
para ilustrar acontecimentos, para dar introdução a uma determinada problemática, ou
para servir de instrumento de reforço de uma ideia expressada. É importante que a
seleção desses documentos seja feita de maneira que possibilite despertar o interesse no
aluno e não o contrário, por isso é importante que o documento tenha uma linguagem
clara, não seja muito extenso e não seja de uma temática demasiada complexa para ser
explorada. Quanto à maneira de explorar o documento, é essencial que o professor saiba
direcionar os seus alunos a um ponto de vista crítico do que eles estão observando, às
vezes mais, outras vezes menos, dependendo do tipo de documentação que for
trabalhada. No caso a documentação trabalhada nesse artigo será o jornal, este deve ser
visto como uma fonte riquíssima para ser explorada na questão da capacidade de análise
e interpretação do estudante. E segundo o próprio PCN:
Na transposição do conhecimento histórico para o nível médio, é de
fundamental importância o desenvolvimento de competências ligadas
à leitura, análise, contextualização e interpretação das diversas
fontes e testemunhos das épocas passadas – e também do presente.
Nesse exercício, deve-se levar em conta os diferentes agentes
sociais envolvidos na produção dos testemunhos, as motivações
explícitas ou implícitas nessa produção e a especificidade das
diferentes linguagens e suportes através dos quais se expressam
(PCNEM, 1999).
Para se analisar o conteúdo de um jornal, o estudante deve ter em mente que
aquilo que está em suas mãos, além de se ser um registro do passado, também é ou foi
um produto comercial. O jornal está sempre vinculado a alguma instituição e esta possui
as suas influências e interesses que através de suas publicações procuram defender e

propagar. Depois disso ainda tem a questão da participação do jornalista que redigiu a
notícia, afinal, uma informação produzida por alguém muitas vezes não consegue ser
totalmente imparcial. Por isso, ao se analisar tal fonte, é importante que o professor
destaque a qual instituição o jornal está ligado e explique o contexto histórico da época,
porque diferentemente de um historiador, o aluno não tem conhecimento prévio daquele
contexto, por isso é necessário que o professor tome as devidas providências antes de se
começar a trabalhar com o documento, isso claro dependendo da forma com a qual ele
vai explorar o jornal. Quando se utiliza de tal metodologia, o professor deve fazer com que
os alunos consigam ler nas entrelinhas do papel, que consigam enxergar que um
documento histórico não é uma verdade absoluta, que ele está sujeito a interesses, deve
destacar também a relatividade das opiniões de acordo com o posicionamento, seja de
uma instituição ou de uma pessoa.
A capacidade de analisar um documento, mais especificamente o jornal, de
maneira crítica, trás para a vida prática do estudante uma contribuição enorme no que diz
respeito ao seu entendimento da complexa vivência em sociedade. O aluno aprender a
perceber que as notícias vinculadas em meios de comunicação possuem um teor de
relatividade, dependendo de sua vinculação e momento que esteja vivenciando, é de
fundamental importância para ele se tornar um cidadão crítico. E isto está intimamente
ligado com a maturação de uma consciência histórica, pois a partir do processamento de
conhecimentos de fatos passados, os alunos conseguirão desenvolver uma capacidade
de analisar sua situação presente e dessa maneira melhor se orientarem em suas ações.
E ainda, segundo o filósofo Hans-Georg Gadamer, a consciência histórica é o privilégio do
homem moderno de ter plena consciência da historicidade de todo o presente e da
relatividade de toda opinião. E tal capacidade de analisar criticamente o universo de
informações caóticas que cercam os estudantes é uma competência que está dentro dos
próprios Parâmetros Curriculares Nacionais. Ou seja, é uma capacidade essencial que se
espera que o aluno desenvolva com o ensino básico, como podemos observar no
seguinte trecho:
Na perspectiva da educação geral e básica, enquanto etapa final da
formação de cidadãos críticos e conscientes, preparados para a vida
adulta e a inserção autônoma na sociedade, importa reconhecer o
papel das competências de leitura e interpretação de textos como
uma instrumentalização dos indivíduos, capacitando-os à
compreensão do universo caótico de informações e deformações que
se processam no cotidiano. Os alunos devem aprender, conforme
nos lembra Pierre Vilar, a ler nas entrelinhas. E esta é a principal
contribuição da História no nível médio. (PCNEM, 1999).

Atividade prática
No período que estávamos desenvolvendo a pesquisa, resolvemos fazer uma
intervenção em sala de aula para colhermos dados e tentar por em prática o que estamos
pesquisando, no caso, a utilização de documentos históricos em sala de aula. A intensão
de realizarmos um trabalho em sala de aula desta natureza, direcionado especificamente
as turmas de terceiro ano, não foi aleatória, pois, se trata de uma turma que está prestes
a concluir o ensino médio na rede pública de ensino, e uma de nossas intenções foi saber
se nos anos anteriores os alunos participaram
do tipo de atividade que fizemos com eles
e como, a partir da realização desta atividade, eles avaliam esse tipo de abordagem de
ensino de história. Essa experiência foi muito válida para compreendermos que trabalhar
com documentos em sala de aula é de grande importância no processo de aprendizagem.
Buscamos trabalhar especificamente com anúncios publicitários e matérias do
jornal
A Ordem
, inaugurado em julho de 1935, pertencente à Arquidiocese de Natal. Este
jornal se encontra no arquivo público da arquidiocese de Natal, atualmente em fase de
organização documental, para então poder atender a todos os interessados em realizar
pesquisa nos arquivos disponibilizados pela instituição. Considerando os poucos centros
documentais existentes na cidade, esse, depois de concluído, será de suma importância
para os interessados. Assim, entre outros, os professores de ensino básico terão mais
uma opção para poder adquirir fontes documentais para serem utilizadas em sala de aula.
Voltando a nossa atividade em sala de aula, elaboramos um questionário
dividido em duas partes. Na primeira, os estudantes respondiam duas perguntas
relacionadas, que tinha como propósito saber se ao longo de suas vidas escolares, até
então, haviam participado de alguma atividade semelhante a esta. Na segunda parte do
questionário eles responderam após a atividade realizada, fazendo uma avaliação da
metodologia que aplicamos. Notamos então, que os dados da primeira parte do
questionário mostraram que cerca de 60% dos estudantes nunca haviam utilizados
documentos históricos na forma com a qual foi abordada e que grande parte dos 40% que
já participaram de alguma atividade semelhante a essa responderam que foi satisfatória
quando o professor propôs esse tipo de atividade, mas não como foi abordada durante
nossa intervenção de maneira crítica e reflexiva, buscando contextualizar as informações
a época vivenciada pelos autores, assim descontruindo possíveis julgamentos prévios
com os olhos de hoje, aprendendo também como ler as entrelinhas das informações
contidas em quaisquer documentos, mas no caso específico nosso, o jornal, que

escondem intenções particulares, ideologias políticas e religiosas, vinculados às partes
envolvidas na informação.
Na segunda parte do questionário, boa parte dos estudantes, afirmaram que
esse tipo de atividade foi válida, pois auxiliou-os a abrirem os olhos para uma realidade
até pouco tempo mal explorada. Muitos não sabiam como analisar criticamente os meios
de informação atuais que jogam notícias, na maioria das vezes, passíveis de dúvida. De
certa forma, ao analisarem informações de épocas anteriores da maneira como os
orientamos a fazerem, assimilaram a finalidade da atividade e deixaram de aceitar a
verdade imposta nas informações repassadas de forma acrítica e passaram a entender a
relatividade da verdade. Assim, aplicando até mesmo em outras concepções que eles têm
em relação à sociedade. Essa foi a conclusão a qual chegamos depois de analisar as
respostas dos alunos ao questionário que passamos, como podemos observar nessas
respostas: “Pois mostrou uma maneira nova de debatermos os assuntos. Uma maneira
mais interessante, onde podemos entender mais, pois nos mostra que devemos ter um
lado crítico, sobre entender melhor para darmos nossa opinião.” ; “Me ajudou a analisar
criticamente as informações dos dias de hoje com as de antigamente”. Outro aspecto que
nos chamou atenção foi a participação efetiva de boa parte dos estudantes durante um
debate no decorrer da aula, utilizando o diálogo entre passado e presente que esta
atividade propôs a enfatizar. Algo interessante a ser destacado é que conseguimos
mostrar que a disciplina de história pode ser trabalhada pela participação efetiva entre
professor e estudante e dessa maneira se tornar prazerosa e muito mais além disso, ser
útil no cotidiano de ambas as partes envolvidas nesse processo de aprendizagem.
Nossa intenção de realizar uma atividade com documentos históricos, da
maneira com a qual achamos adequada, não foi apenas voltada para a questão do
estudante em si, mas, também saber se os professores da escola tinham essa
consciência da importância deste tipo de atividade no processo de renovação do ensino
de história e seus benefícios. Procuramos saber se eles vêm utilizando os documentos
históricos na sala de aula, e mais que isso, como trabalham e qual a finalidade desta
atividade para eles.
A nossa conclusão, no entanto, não foi a esperada. Todos os professores
entrevistados afirmaram ter utilizado, mas não com uma regularidade expressiva. Tal
motivo, dentre outros, deve-se a falta de acessibilidade aos documentos, por alguns
mencionados. O que é interessante de destacar é que mesmo não utilizando com a
frequência desejada, afirmaram ser uma maneira mais prática de aprender e que, ao

realizarem este tipo de atividade, atingiram seu propósito. Mas o propósito que vemos em
utilizar documentos históricos em sala de aula é muito mais que tornar o ensino mais
prático, como vimos em uma das respostas, mas sim despertar uma consciência crítica do
discente, juntamente com o objetivo de transformá-lo em um sujeito ativo dentro da
construção do saber.
Fazendo uma análise deste tipo de atividade tanto do lado dos docentes
quanto dos discentes, compreendemos a necessidade imediata de revermos o que
realmente buscamos como propósito no ensino de história como disciplina escolar. No
lado dos alunos, percebemos que as aulas tradicionais não atendem mais suas
exigências enquanto estudantes e cidadãos viventes numa sociedade em constante
transformação. Por isso, buscar novas metodologias para o ensino de história é
necessário para formarmos cidadãos críticos e buscar alternativas de ensino voltadas a
sair da rotineira aula de história que atualmente é dominante nas salas de aula. E isso
também terá um papel fundamental para desconstruir a imagem da disciplina vista pelos
alunos como chata e que não tem sentido esse tipo de aprendizado. Assim um trabalho
com documentos históricos se bem trabalhados, seria uma alternativa interessante numa
possível mudança de concepção da disciplina pelos estudantes.
No que se refere ao educador, este no processo de aprendizagem escolar
tem um papel principal, ao lado do estudante, apesar da nossa população em geral não
dá o valor necessário que esse profissional tem na construção da sociedade. Esses
profissionais, considerando suas condições de trabalho e dificuldades impostas no seu dia
a dia, têm nos documentos históricos um tipo de atividade que ajudaria de forma positiva
os seus educandos a terem uma formação escolar voltada para a construção do individuo
e muito mais que isso, um cidadão crítico de sua sociedade.
Considerações finais
A partir da pesquisa e da atividade realizada com os alunos e professores,
pudemos perceber que existe um considerável grau de deficiência no que diz respeito ao
ensino de história na educação básica (especificamente, o Ensino Médio). Muitas
perguntas passaram a surgir logo após a nossa pesquisa. Qual a melhor forma de se
trabalhar história em sala de aula? Como se fazer para que o ensino de história passe a
explorar o caráter crítico dos alunos, mesmo com as precárias condições de trabalho dos
docentes? Qual a melhor forma podermos auxiliar os professores da rede pública na

seleção e utilização de documentos no planejamento de aulas? É através de perguntas
como estas que podemos repensar uma nova forma de lecionar história visando formar
verdadeiros cidadãos aptos a terem participação ativa nas transformações do mundo que
os cerca.
Ao ler os questionários destinados aos alunos que participaram da nossa
atividade, bem como ao analisar os depoimentos de alguns docentes, vimos que, o
simples estímulo à análise crítica foi o suficiente para tornar as aulas de história mais
sedutoras aos discentes, além de despertar nestes uma nova forma de encarar as
informações que recebem dos vários veículos de informação, relacionando-os com
documentos de outras épocas e despertando neles a habilidade de comparar, de
perceber tendências e ideologias presentes nas informações, se utilizando dessa maneira
de um conhecimento passado para orientar seu pensamento em perspectivas do
presente, em outras palavras, passando a fazer uso de sua consciência histórica.

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POSTADO POR: EDMUNDO SANTOS